Capítulo 1
Noite de inverno rigoroso, a neve caía em flocos grandes, cobrindo o chão com uma camada espessa, que logo se tornava lamacenta e suja sob o vai e vem dos pedestres e veículos.
À beira da calçada, repousava um Audi azul–acinzentado.
Camila Sousa, vestida em um casaco de pluma branco, carregava um buquê de rosas recém–comprado na floricultura. Enquanto caminhava em direção ao carro, discou o número de Lorenzo Marques.
Hoje marcava o oitavo aniversário de casamento deles.
Camila havia terminado o trabalho cedo, desejando encontrar o marido para um jantar à luz de velas, celebrando o fato de terem superado a famosa crise dos sete anos e entrado no oitavo ano de casamento.
Na primeira tentativa, ninguém atendeu.
Depois de ligar duas vezes, e esperar um bom tempo, finalmente ouviu–se uma voz fria do outro lado.
“O que foi?”
O sorriso de Camila diminuiu um pouco, mas ela ainda tentou lembrar: “Combinamos de jantar fora hoje, o lugar…”
“Estou ocupado com trabalho.”
Antes que Camila pudesse dizer mais alguma coisa, a chamada foi abruptamente encerrada.
Apertando o celular em sua mão, ela ficou ali no meio da ventania e neve, tremendo instintivamente com o frio, enquanto uma sensação de desânimo tomava conta de seu coração.
Será que Lorenzo ainda se lembrava do que esse dia significava?
Algo que ele havia prometido, era sempre adiado ou tratado com desdém, ele sequer podia reservar tempo para um jantar.
De repente, ela se sentiu exausta.
Camila fechou os olhos por um instante, mas logo se recompôs e ligou para seu filho, Gael Marques.
Para poder desfrutar de um raro jantar a sós com o marido, ela já havia telefonado para a sogra, que ficaria com Gael na casa antiga.
Com o jantar à luz de velas cancelado, era hora de buscar o filho.
Em um canto de um restaurante luxuoso e extravagante, estava sentada uma mulher deslumbrante e um garotinho de seis ou sete anos.
O menino estava entretido com um novo videogame, alheio ao aviso de chamada que piscava na tela do celular sobre a mesa.
A mulher ao lado, ao ver que era a mãe ligando, deslizou o dedo para atender e colocou o celular no mudo, deixando–o virado na mesa.
Ela perguntou ao menino: “Gael, gostou do videogame que a tia comprou pra você?”
Do outro lado, Camila ouviu uma voz feminina e ficou paralisada, sentindo um frio súbito no coração.
Era Valentina Ribeiro.
A primeira paixão de Lorenzo, amiga de infância. Não estava estudando no exterior? Como tinha voltado e estava com seu filho?
Dentro do restaurante.
O menino finalmente desviou os olhos do videogame e sorriu, assentindo: “Gostei, Tia Valentina é a melhor. Obrigado, Tia Valentina.”
Valentina sorriu levemente e perguntou: “Ué, ninguém na sua casa te compra videogames?”
O Grupo Marques é uma corporação tão grande, com a fortuna do Sr. Lorenzo Marques, comprar algumas empresas de jogos seria fácil, quanto mais um simples videogame?
Gael fez um biquinho descontente:
“Não é isso, papai e os avós me deixam brincar à vontade. É a mamãe que vive controlando tudo, sempre cheia de regras, é um saco, até limita meu tempo de jogo, e quando dá a hora, tira o videogame de mim… Tia Valentina é muito melhor.”
Valentina afagou a cabeça de Gael com carinho, sua voz suave, “Não diga isso, sua mãe só está preocupada que você jogue demais e prejudique a visão, é para o seu bem. Se ela ouvisse isso, ficaria magoada.”
“Ela não fica, não.”
Gael voltou a se concentrar no videogame, respondendo sem se importar: “Mamãe é muito tranquila, nunca a vi chateada.”
Valentina riu suavemente, desviando o olhar para a comida sobre a mesa. Pensou por um momento e pegou um pedaço de frango apimentado para alimentar Gael, que estava tão absorto no jogo que se esquecera de comer.
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