Já pensei em tudo. Orfeu murmurou, e em seus olhos sombrios brilhou uma luz repentina, como se vislumbrasse esperança.
-As famílias Garcia e Nunes já oficializaram a aliança. Se eu declarar publicamente que tudo não passou de uma farsa, a reputação das duas casas, especialmente a minha, será prejudicada. Ele fez uma pausa e suspirou. –
Por isso, durante o próximo ano, não posso me afastar da Rafa.
Meu sangue gelou.
– Mas já providenciei uma residência sigilosa. Sua voz spava quase gentil. – Você ficará lá. Eu irei sempre que puder.
Orfeu manteve o olhar fixo em mim, como se aquilo fosse un gesto nobre.
– Assim que essa tempestade passar e eu assumir o controle total da empresa, anunciarei meu divórcio com Rafaela. E então, Mirabel, vou te trazer de volta… Do jeito certo.
Antes que eu pudesse responder, Benício explodiu.
Com um movimento brutal, agarrou Orfeu pela gola e o ergueu como se fosse um mero boneco de pano.
Seu desgraçado… – Sua voz era um grunhido de pura fúria. – Quer fazer da Mirabel sua amante de luxo?
Os olhos de Orfeu brilharam de raiva, mas Benício não lhe deu chance de falar.
– Você passou anos correndo atrás dela, brigando comigo feito um louco… E pra quê?! Pra agora tratá–la como um segredo sujo?!
O passado voltou como um vendaval.
Orfeu e Benício me disputavam na universidade. Mas eu nunca aceitei nenhum deles.
Até que um dia… fui acusada injustamente de plagiar a dissertação de Rafaela.
Fui humilhada. Ridicularizada.
E foi Orfeu quem virou noites em claro buscando provas para limpar meu nome.
No final, ele venceu.
Foi assim que eu me permiti acreditar nele.
Acreditar que me amava incondicionalmente.
Mas agora…
Eu o encarei.
Orfeu estava lívido, os olhos fulminando Benício.
E então, com um riso de escárnio, rosnou:
-Um perdedor como você acha que pode me dar lição de moral?
Benício cerrou os dentes, pronto para atacar novamente, mas dessa vez, Orfeu me olhou direto nos olhos.
E ali estava…
Aquela expressão arrogante e possessiva.
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capítulo 5
A certeza de que eu pertencia a ele.
-Mirabel… pense bem.
Seu tom era de pura condescendência.
– Você ficou comigo por quatro anos. Sabe que nunca encontrará alguém melhor.
Meu estômago revirou.
-E além disso… Eurico ainda precisa estudar em Cidade Mirassol.
Minha respiração falhou.
Sem mim, como ele vai crescer na vida?
Eu travei.
– Você pode não se importar consigo mesma… mas deveria pensar nele.
Orfeu se aproximou como um predador.
Afinal, ele é tudo que restou da sua irmã.
Um calafrio subiu pela minha espinha.
Minha visão escureceu por um instante.
E então, veio a fúria.
Pura, intensa, avassaladora.
Nem mesmo renascendo, escapei dessa armadilha.
Orfeu ainda usa Eurico para me ameaçar.
Se isso é o que ele chama de amor…
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Então esse amor não passa de uma farsa vil e desprezível.
Eu não preciso da sua ajuda! — Eurico gritou, os olhos ardendo de raiva. sozinho!
—
Vou estudar, me esforçar e crescer
Orfeu estreitou os olhos, sua expressão escurecendo por um instante. Então riu.
–
Eurico, você ainda é só um garoto. Sua voz era carregada de condescendência. ingênuo.
Então ele se virou para mim.
–
Não vou te culpar por ser
Seus olhos brilhavam com algo sombrio, ameaçador, mas sua voz era de uma doçura doentia.
Mirabel… você vai aceitar minha proposta, não vai?
Sorri.
Tranquilamente, como se a decisão fosse óbvia.
Benício e Eurico me encararam, perplexos.
Claro. Minha voz foi firme, serena.
–
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capitulo 5
-Mirabel, você… Benício começou, mas sua voz fraque jou.
Seus olhos se avermelharam, e ele baixou a cabeça, como um cão derrotado.
Eurico, por outro lado, se debatia como um animal encurralado.
Não,
tia! Ele soluçava, desesperado.
voltar pra casa!
–
Vamos voltar pra nossa cidade!
As lágrimas transbordaram dos seus olhos.
E as minhas não tardaram a segui–las.
Voltar pra casa…
A casa onde crescemos juntos.
Não aceita! Se for por minha causa, eu saio de Mirassol! Podemos
Onde minha irmã me criou como se fosse minha mãe.
Onde ela abriu mão de tudo por mim.
Onde desistiu dos estudos, trabalhou até se esgotar, só para garantir que eu tivesse um futuro.
E quando os homens do vilarejo começaram a me olhar de forma errada…
Ela se casou com o filho do chefe da vila, mesmo sem amá–lo.
Mas nem isso a salvou.
Quando descobriu a traição do marido, pegou Eurico e eu pela mão e nos trouxe para a cidade grande.
Mesmo sem dinheiro, sem apoio, sem futuro…
Ela nunca hesitou.
Então, no meu último ano do ensino médio…
Ela caiu de um andaime na obra onde trabalhava.
E nunca mais voltou pra casa.
Desde então, éramos só eu e Eurico.
E eu jurei protegê–lo.
Jurei que ele nunca sofreria.
Jurei que ele teria um futuro brilhante.
E ele cumpriu sua parte.
Estudou. Se dedicou.
Se tornou o primeiro colocado no vestibular de Mirassol.
Mas Orfeu…
Orfeu descobriu que eu queria fugir.
E, para me dar uma lição…
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capítulo 5
Destruiu a vida de Eurico.
O acusaram de assediar uma colega de escola.
O acusaram de fraude acadêmica.
Ele foi expulso da Universidade.
E nunca se recuperou.
E no dia em que percebeu que tudo isso era só um jogo sujo de Orfeu para me manter presa…
Ele se jogou do prédio onde morávamos.
E morreu.
A lembrança foi avassaladora.
Meu peito queimava.
A raiva era tanta que senti um gosto amargo na boca.
E então…
O sangue subiu.
E eu cuspi vermelho.
– Tia! – Eurico gritou, correndo para mim.
Benício, pálido de pânico, correu para chamar os médicos.
Orfeu empalideceu.
– Mirabel! O que está acontecendo?! Você tá me assustando!
Mas eu já não conseguia mais olhá–lo.
Apenas segurei o rosto de Eurico entre minhas mãos.
— Meu amor, você quer me ver feliz, não quer? – Murmurei, minha voz baixa, enfraquecida.
Eurico prendeu a respiração, seus olhos grandes e úmidos se enchendo de desespero.
Quero…
– Então prometa que vai se comportar.
-Prove que é o menino mais inteligente que eu conheço.
Ele tremeu.
Como um animalzinho preso numa armadilha.
Então, depois de longos segundos de silêncio, sua cabeça baixou.
E sua voz saiu rouca e hesitante:
Eu entendi.