Não consegui encarar os olhos de Benício.
Aqueles olhos transbordando sentimentos profundos…
Os mesmos olhos que choraram por dias quando morri.
Lembro–me claramente.
Depois do meu enterro, ele saiu dirigindo sozinho e sofreu um acidente terrível.
Ficou entre a vida e a morte.
– Tá bom. Murmurei, olhando para ele com suavidade.
Benício continuava a falar, nervoso, tentando se explicar.
Não quero me aproveitar da situação… Não quero nada em troca…
Mas, no instante em que meu “tá bom” cortou o ar, ele travou.
Os olhos arregalados. –
O choque estampado no rosto.
Por um segundo, não soube o que fazer.
E, ao ver sua expressão boba, meu humor melhorou instantaneamente.
Soltei uma risada baixa.
Eu nunca planejei ficar ao lado do Orfeu.
Ele piscou, atônito.
– Tudo isso é só uma estratégia.
Inclinei levemente a cabeça, um sorriso frio nos lábios.
–
Ele é um lunático. Preciso evitar que surte.
Se eu enfrentá–lo diretamente, perco.
Benício segurou minha mão entre as suas.
Agora não precisa mais.
Seus olhos brilharam de intensidade.
Você pode contar comigo.
Sorri.
Tá bom.
Nos dias seguintes, ele permaneceu ao meu lado.
Apesar de ser um herdeiro de família poderosa, não tinha os mesmos caprichos de Orfeu.
Orfeu era mimado, acostumado a ter o mundo aos seus pés.
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capítulo 7
Até quando se esforçava para parecer atencioso, havia um egoísmo presente.
Mas Benício?
Benício sabia cuidar.
Seu toque era delicado, sua atenção genuína.
Os médicos e enfermeiros logo notaram.
“Que rapaz atencioso!”
Sua presença era leve, reconfortante.
Um tipo de cuidado que eu jamais havia recebido antes.
Mas, enquanto o observava se movimentar,pelo quarto…
Senti uma pontada de arrependimento.
Se não fosse pelo escândalo do plágio, talvez eu tivesse escolhido ele. (1)
Eu queria escolhê–lo.
Mas a família Bueno era poderosa demais.
E eu tive medo de apostar alto demais e perder tudo.
Então…
Apostei em Orfeu.
Ele me deu a coragem de arriscar.
E me fez perder de maneira miserável.
Orfeu só apareceu uma semana depois.
Entrou no quarto com um sorriso travesso, segurando uma bolsa de edição limitada da Hermès.
Olha o que eu trouxe pra você, meu amor!
Segurei a taça de chá sem dizer nada.
Ele hesitou, tentando se justificar.
Não consegui falar com você esses dias… Meu pai me trancou.
Suspirei.
Óbvio.
–
Tomou meu celular. – Continuou, mordendo o lábio.
A mídia tá obcecada com meu casamento. Ele achou que se eu viesse ao hospital, viraria escândalo.
Fingi interesse no teto.
Eu implorei por dias, Mirabel.
Ele deu um passo à frente.
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2/4
capítulo 7
-Fui punido, levei bronca… Mas finalmente consegui permissão para vír.
E, com ar dramático, levantou a camisa.
Vi as marcas dos chicotes nas costas de Orfeu.
Mas, ao contrário do que ele esperava, não senti pena.
Apenas ri.
Uma risada fria, zombeteira, cruel.
Orfeu franziu o cenho, claramente descontente com minha reação.
Mas, sabendo que estava errado, adotou um tom manhoso e se aproximou.
—
– Amor, você não sente mais pena de mim?
Peguei o celular, abri o aplicativo e cliquei em uma conversa específica.
Rafaela.
Levantei o telefone, olhando–o diretamente nos olhos.
Dá uma olhada nisso. Vamos ver se você foi espancado porque queria me ver…
Inclinei a cabeça, o olhar gélido.
Ou porque engravidou ela.
Seu rosto ficou tenso.
Pegou o celular da minha mão, confuso, e começou a rolar a tela.
E então…
Seu rosto ficou branco.
Puro choque.
Nos últimos dias, Rafaela não parou de me mandar mensagens.
Fotos de Orfeu a acompanhando em exames de pré–natal…
De mãos dadas com ela no shopping…
E até um vídeo dela de lingerie, sussurrando palavras sujas, enquanto ele segurava a câmera.
E não era só isso.
Ela gravou todo o “castigo” dele.
No vídeo, a voz de Orfeu ecoava alto e claro:
Eu errei. Eu não deveria ter abandonado Rafa.
Eu não deveria ter corrido para o hospital atrás de Mirabel no dia do meu casamento!
O impacto foi devastador.
Orfeu perdeu toda a cor do rosto.
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capitulo 7
Seus dedos apertaram o telefone, como se quisesse esmaga lo.
E então, numa tentativa desesperada, ele me olhou, a voz tremula.
Mirabel, não é o que parece…
-Eu só fiz isso para acalmá–los. Para ganhar tempo. Para poder sair dali!
-Eu queria ver você. Só queria ver você…
Levantei a mão.
Ele imediatamente se abaixou, se ajoelhando diante de mim
Toquei seu rosto com gentileza.
–
Não chore.
Sussurrei, com um sorriso delicado.
Eu acredito em você.
Seus olhos brilharam de esperança.
Seus dedos seguraram minha mão, com força.
– Obrigado por confiar em mim, meu amor!
Eu já mandei preparar a nossa casa. Tudo está pronto para você.
– Contratei até alguém para cuidar de você.
Sorri, doce como mel.
– Ótimo. Então vamos sair do hospital hoje.
Ele iluminou–se.
Vou providenciar os papéis da alta!
Saiu apressado, radiante de alegria.
Tão fácil.
Tão ingênuo.
Tão burro.
Não demorou muito para Rafaela me mandar uma mensagem.
“Sua vadia sem vergonha, teve coragem de contar pra ele?!”
“Vou acabar com você!”
Fechei o celular,
Rafaela não sabia.
Mas desta vez, quem estava destinada à ruína…
Era ela.