Segui Orfeu até a gaiola dourada que ele construiu para mim.
A partir desse dia, tornei–me a mulher “perfeita“.
Submissa. Silenciosa. Sem vontades próprias.
Um pássaro enjaulado.
No início, ele vinha com frequência.
Mas, aos poucos, suas visitas rarearam.
Agora, aparecia uma vez por semana, no máximo.
E, toda vez que vinha, havia mais culpa em seu olhar.
Ele sabia.
Sabia que Rafaela vinha aqui pelas minhas costas.
Sabia que ela causava cenas, me insultava, destruía minhas coisas.
Mas fingia que não via.
Afinal, a família Garcia e a família Nunes estavam entrelaçadas agora.
Ele não podia desrespeitar sua querida esposa.
Como compensação, me cobria de presentes caros.
Bolsas. Joias. Sapatos de grife.
Antes, eu recusava.
Agora, aceitava tudo.
Afinal, era um pagamento justo.
Afinal, atuar nesse teatro também era um trabalho.
E, como todo trabalho…
Vinha com seus danos.
Hoje, senti que já estava forte o suficiente.
Pedi permissão para sair, dizendo que visitaria Eurico.
Sabia que Orfeu tinha homens me vigiando.
Por isso, me comportei normalmente.
Mas, na verdade, já tinha tudo planejado.
Já havia providenciado o passaporte de Eurico.
Já havia pedido demissão.
Já estava me candidatando a uma pós–graduação na Austrália.
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capítulo 8
Em breve, estaríamos livres.
Quando voltei, assim que desci do carro, ouvi o barulho.
Vidro quebrando.
Móveis sendo derrubados.
Uma bagunça completa.
Assim que entrei, vi Rafaela sentada no sofá, tomando café, relaxada.
Enquanto isso, seus capangas destruíam tudo ao redor.
Sorri.
Pela primeira vez, isso não me incomodavą.
Afinal, eu estava de partida.
Inclinei a cabeça e soltei um suspiro leve.
Você não se cansa de vir aqui dia sim, dia não, Rafaela?
Ela bufou, entediada.
–
Ri.
Não sou eu que estou fazendo esforço, então não.
– Então continue.
E, sem me importar, fui direto para a cozinha.
Orfeu disse que sentia falta do meu arroz de frutos do mar.
Disse que viria jantar comigo hoje.
Por isso, passei no mercado e comprei os ingredientes.
Mas minha calma incomodou Rafaela.
– Segurem ela! – Ordenou ela.
Ninguém se mexeu.
Os seguranças se entreolharam, hesitantes.
Os rostos expressavam um claro desconforto.
Inclinei a cabeça, zombeteira.
Rafaela, você realmente acha que eles têm coragem de me tocar?
O silêncio deles foi a resposta.
Mas eu continuei.
Orfeu se casou com você por obrigação. Mas quem você acha que ele protege? Quem você acha que ele trata como algo precioso? Eu continuo morando aqui. E nem seus pais ousam dizer nada. Por que seus capangas ‘ousariam?
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capitulo 8
A xícara voou em minha direção.
Olíquido quente encharcou minha roupa, escorrendo pelo meu pescoço.
Mas nem o calor do café foi tão intenso quanto o ódio nos olhos de Rafaela.
Cala essa boca! Orfeu me ama! Rosnou, o rosto retorclo de raiva e frustração.
Windy
Então, de repente, um brilho cruel surgiu em seu olhar.
Um pensamento vil.
Seus lábios se curvaram em um sorriso de escárnio.
– Ah, é verdade… Acho que ainda não te contei essa parte.
Ela respirou fundo, como se estivesse saboreando a lembrança.
– No aniversário do Orfeu, tomei um afrodisíaco.
Estava furiosa, pensei em encontrar outro homem para me aliviar.
Mas sabe o que aconteceu?
Ela se inclinou para frente, os olhos brilhando de triunfo.
Orfeu não deixou.
Disse que eu só poderia ser dele.
Fez uma pausa, apenas para prolongar o golpe.
Então, sorriu com malícia.
–
Ele me segurou na cama.
Me tomou a noite inteira.
Chamou meu nome sem parar.
Disse que me amava.
Disse que não podia viver sem mim.
– Mas… que você era a melhor opção para esposa.
Seus olhos dançavam de prazer ao ver minha expressão impassível.
Então eu dei um jeito nisso.
A chantagem do telhado? Foi planejada.
Ela soltou uma risada cheia de desdém.
Você realmente achou que eu ia pular?
Orfeu sabia que eu não ia.
Ele só teve medo que algo saísse do controle.
Ah…
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capitulo 8
Então foi assim.
Na última vida, ela exagerou na encenação.
Brincou com fogo e acabou se queimando,
Ela nunca teve a intenção de morrer.
Mas, por causa do seu joguinho sujo, eu perdi tudo.
Eu…
Eurico…
E meu filho inocente.
Senti um nó na garganta.
E, naquele momento, algo dentro de mim estalou.
Sem aviso, avancei sobre ela e a empurrei com força.
Rafaela gritou, caindo desajeitada sobre o sofá.
Nesse instante, a porta se escancarou.
Orfeu entrou correndo, pálido de pavor.
– Rafa! Você está bem?!
Ele nem olhou para mim.
Apenas se ajoelhou ao lado dela, os olhos cheios de preocupação.
Então, virou–se para mim e gritou, furioso:
– Você está louca?! Ela está grávida! Como pode empurrá–la?!
Minha expressão permaneceu inexpressiva.
E daí?
Minha voz soou fria como gelo.
–
Ela caiu no sofá, não no chão.
O bebê dela não corre perigo.
Por um segundo, Orfeu ficou sem palavras.
Eu podia ver a hesitação em seu rosto.
O incômodo.
A dúvida.
Eu estava diferente.
A mulher submissa e compreensiva tinha sumido.
Ele tentou me tocar.
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capitulo 8
Mas antes que sua mão me alcançasse…..
Peguei a sacola de compras e joguel tudo nele.
O impacto foi imediato.
Mariscos, camarões, peixes frescos tudo grudou em suas roupas caras.
O cheiro se espalhou pelo ambiente.
Rafaela gritou.
– Orfeu!
Mas eu não estava mais ouvindo.
Olhei diretamente nos olhos dele.
E sorri.
Um sorriso gelado, cruel, triunfante.
Como eu fui idiota..
Dei um passo à frente.
A voz carregada de desprezo.
Ainda pensava em fazer seu mingau favorito.
Orfeu ficou petrificado.
Mas não se preocupe.
Me inclinei levemente, sussurrando as palavras finais:
Tudo acabou, Orfeu.
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