Capítulo 3
Três anos depois
Alyssa
“Abre essa porra dessa porta, Alyssa!” Isaac grita, batendo na porta do quarto com
tanta força que as dobradiças tremem. Com o coração disparado, pego Zuri do berço e
coloco os pequenos fones de ouvido com cancelamento de ruído sobre suas orelhinhas.
“Me desculpe, querida. A mamãe vai tirar a gente daqui,” eu sussurro, minha voz trê
mula enquanto encosto minha bochecha na dela, buscando conforto em seu calor
inocente.
Eu o avisei. Avisei que, na primeira vez que ele me batesse na frente da nossa filha,
tudo estaria acabado. Mas ele não ouviu. Hoje à noite, ele me bateu tão forte que
quase caí em cima dela enquanto ela estava sentada no chão.
Essa foi a gota d’água.
Eu já suportei sua raiva e frustração inúmeras vezes, mas não posso permitir que Zuri
cresça achando que isso é normal. Mesmo que ela tenha apenas sete meses e talvez nã
o se lembre, eu nunca quis que ela visse isso.
Me desculpe, amor. Prometo que isso nunca mais vai acontecer.
Trouxe flores, Tylenol e uma bolsa de gelo. Eu te amo.
O que nossa filha vai pensar se você a tirar do pai que a ama?
Se você me deixar, não há lugar onde você possa se esconder que eu não possa te
encontrar. Juro que mato todos nós.
Estou tão cansada das desculpas vazias. Das demonstrações de amor exageradas. Do ciclo interminável de brigas e reconciliações, repetidamente.
Minha filha merece mais.
Eu mereço mais.
Isaac continua a bater na porta, seus punhos colidindo repetidamente até eu ouvir a
madeira se estilhaçar. “Eu juro por Deus, Alyssa. Abre essa maldita porta ou vou
garantir que você não consiga andar por uma semana!” ele ruge, sua voz ficando mais
alta, seus golpes mais fortes, ainda mais determinado a arrombar e me punir.
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Meu coração dispara, cada batida como um tambor ecoando no meu ouvido. Jogo a
bolsa de fraldas, cheia com os poucos pertences pessoais que Isaac não comprou,
sobre meu ombro e abro a janela.
Nossa casa tem apenas um andar, então a queda não é grande. Segurando Zuri
firmemente contra meu peito, eu saio pela janela e corro pelo quintal, me movendo tã o rápido que meus pés descalços mal tocam o chão.
A chave reserva parece um peso de chumbo no meu bolso enquanto contorno a casa,
indo em direção ao meu carro estacionado na garagem. Eu me atrapalho com a chave,
minhas mãos tremendo enquanto a enfio na fechadura e puxo a maçaneta, entrando
no banco da frente e trancando a porta atrás de mim.
Desesperadamente, eu me arrasto para o banco de trás para prender Zuri na
cadeirinha. Seus olhos cor de avelã me olham com curiosidade inocente,
completamente alheia ao perigo que nos cerca.
“Desculpe te acordar, minha doce menina. Vamos visitar o Tio Gray por um tempo,” eu
sussurro, forçando um sorriso no rosto enquanto a prendo no lugar.
Nenhum dos meus familiares ou amigos sabe sobre Zuri. Eles nem sabem que eu estava grávida. Não tenho contato com ninguém desde que ela nasceu. Isaac garantiu isso, me isolando de todos que eu amo, constantemente martelando na minha cabeça
que eu não era nada sem ele.
E talvez eu não seja. Mas eu prometo a quem quer que tenha criado esse mundo fodido que, se eu sair viva daqui hoje à noite, vou me esforçar para ser melhor. Para
ser a mãe que minha menininha merece.
Eu deslizo de volta para o banco do motorista, minhas mãos ainda tremendo enquanto
coloco a chave na ignição, finalmente conseguindo ligar o carro. Quando o motor ronca, o rosto furioso de Isaac aparece na janela, seu punho ensanguentado
martelando o vidro.
Eu pulo, enquanto Zuri começa a chorar. “Eu vou te matar, Alyssa! Vou te matar e enterrar seu corpo no maldito quintal!” ele grita. Cada batida de seus punhos reverbera pelo carro, enviando medo e apreensão por todo o meu corpo.
Ele realmente vai fazer isso. Esta é a vez que ele está mais furioso, e eu sei que ele vai
passar dos limites desta vez. Eu estarei morta, e não haverá ninguém para impedir
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que ele machuque Zuri.
Não. Temos que sair daqui.
Eu aperto o volante com força, meus nós dos dedos brancos. “Sai da frente, Isaac!” eu grito de volta. “Eu vou passar por cima de você se não sair da minha frente!
Eu juro, eu vou.
Ele não se mexe, seus olhos azuis selvagens de raiva. Eu pressiono o pedal do acelerador, movendo o carro para trás. Ele se afasta a tempo de evitar que seu pé seja
atropelado, e eu acelero para longe.
Dirijo por um tempo, constantemente limpando os olhos para manter a visão clara. Zuri finalmente se acalmou e voltou a dormir, mas eu sei que ainda não estamos a salvo. Isaac provavelmente está rastreando meu carro agora, e se eu não me livrar dele logo, ele nos encontrará. Eu não posso deixar isso acontecer.
Eu encosto no acostamento, minha respiração saindo em arfadas irregulares. Localizo rapidamente meu telefone, sabendo que também terei que me livrar dele. Isaac sempre me rastreou quando eu saía de casa, mesmo para ir até a loja na esquina. Se eu me atrasasse dois minutos, ele revogava meus privilégios de dirigir meu próprio carro
pelo resto do mês.
Mal conseguindo segurar o telefone com minhas mãos trêmulas, tento ligar para Gray, mas vai direto para a caixa postal. Tento mais duas vezes antes de deixar uma mensagem de voz, que ele provavelmente não vai ouvir. “Grayson, por favor, me ligue de volta quando puder,” eu digo, tentando manter minha voz firme, embora meu coraç ão esteja disparado como um cavalo, e pareça que meu peito vai explodir.
Eu olho para Zuri, que ainda está dormindo pacificamente. “Vamos ficar bem,” eu
mais para mim mesma do que para ela. “Eu vou nos manter seguras.
sussurro,
Mas o que diabos eu vou fazer? Estou ficando sem tempo. Ele vai nos encontrar e nos arrastar de volta para aquele inferno. Eu só chamei a polícia uma vez, mas como os pais de Isaac são ricos, eles pagaram para tirá–lo dessa de alguma forma. Eu sei que ele faria de novo, e desta vez, ele me mataria em vez de me espancar.
Outra pessoa vem à mente–alguém com quem eu nunca pensei que
teria
que
falar
novamente na minha vida, mas ele é o único outro número que consigo lembrar de cabeça. Eu sei que ele me ajudaria se eu pedisse, e ele mora a apenas vinte minutos
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daqui.
Relutantemente, eu disco seu número, esperando que ele não tenha mudado. Há
poucas pessoas que têm seu número pessoal, mas por algum motivo, ele me deu
alguns meses depois que comecei a namorar Isaac.
Ele atende no primeiro toque, e sentindo o tempo correr, eu falo desesperada, “King,
Gray não atende o telefone. Por favor. Eu preciso da sua ajuda.”
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