Capítulo 5
Alyssa
Deixar Zuri no carro com King não era minha primeira escolha, mas eu tenho muita coisa para pegar e tão pouco tempo. A bolsa de fraldas só podia carregar até certo ponto, mas eu enfiei o que pude nela antes de sair. Agora, preciso pegar o resto das coisas essenciais dela que pelo menos durem um pouco. Isaac vai congelar minhas
contas em breve, e eu ficarei sem dinheiro. Nem posso checar o aplicativo porque
deixei meu celular no carro para evitar ser rastreada.
Corro pelos corredores, pegando um berço portátil, duas caixas de fraldas e lenços umedecidos, uma variedade de papinhas em sachê e algumas latas de fórmula. Meu coração bate forte no peito enquanto me dirijo ao caixa. Graças a Isaac, sei como pegar o que preciso e dar o fora.
Encosto meu cartão no leitor, rezando para que funcione. Ele é recusado.
Uma onda de ansiedade e pavor me invade.
Merda.
Ele já congelou as contas. O pânico toma conta. O que diabos vou fazer agora?
“Senhora, você tem dinheiro para pagar? Se não, posso segurar os itens para você,” diz
a caixa educadamente, seus olhos mostrando uma mistura de simpatia e impaciência.
Uma fila começa a se formar atrás de mim.
Passo os dedos pelo cabelo. “Ah, não. Esquece, eu vou encontrar outra-
“Eu pago,” uma voz profunda ressoa bem atrás de mim. Viro–me, meu coração pulando
uma batida. Lá está King, segurando Zuri nos braços. Ele parece quase ridículo com
ela–minha bebê de sete quilos nos braços de um homem gigante e assustador vestido
com roupas de motoqueiro.
“O–O que você está fazendo aqui?” sussurro para ele, horrorizada.
Seu maxilar se contrai, mas seus olhos permanecem calmos. “Ela fez xixi em mim, e eu
não sabia o que fazer.
Estou surpresa que ele sequer a tirou do assento do carro, quanto mais a trouxe para
dentro.
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“Pegue–a,” ele ordena, passando–a para mim sem esperar minha resposta.
Ele encosta um cartão no leitor, e a caixa sorri, suas bochechas ficando rosadas.
“Marido para o resgate, pelo visto,” ela diz com uma risada nervosa, seus olhos
alternando entre King e eu.
Aposto que ela está tentando entender como alguém como ele está aqui com alguém
como eu.
Pega de surpresa pela suposição dela, sinto minhas próprias bochechas esquentarem
de vergonha. “E–Ele não é…” começo a corrigi–la, mas o sorriso divertido de King me
interrompe no meio da frase. Revirando os olhos, volto–me para a caixa. “Deixa pra lá.
Obrigada.
Com o macacão de Zuri molhado e uma sensação de urgência me pressionando, digo a
King que vou trocá–la no banheiro e encontrá–lo no carro. Sua resposta me choca
completamente.
“De jeito nenhum, Gatinha. Vai trocá–la, e eu espero aqui com o carrinho,” King
insiste firmemente, seu tom não admitindo discussão.
Meus olhos se arregalam de incredulidade. Será que King morreu e foi substituído por
um ser humano decente?
Não estou acostumada com isso. Isaac nunca entrou na loja comigo. Eu sempre tive que lidar com tudo sozinha. Isso incluía minha gravidez, pós–parto e criar ela. Parecia que seu único foco era administrar o negócio do pai e me controlar.
“Ah, obrigada,” murmuro, ainda processando a inesperada gentileza de King. “E sua camisa?” Aponto para a mancha visível escondida sob sua jaqueta de couro.
Ele balança a cabeça. “Está tudo bem. Estamos quase em casa, de qualquer forma.
Enquanto me dirijo ao banheiro, minha mente gira com perguntas. Enquanto troco a fralda e a roupa de Zuri mecanicamente, analiso cada interação com King, tentando
decifrar suas intenções.
Será que ele realmente mudou tanto em três anos? Mesmo quando Zuri fez xixi nele, ele não reagiu da maneira que eu esperava. É suspeito, perturbador, e não consigo me livrar da sensação de que é tudo uma fachada.
Sinto que é só uma questão de tempo antes que ele diga ‘pegadinha‘ e volte a ser um
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grande idiota. Mas por enquanto, enquanto ele estiver disposto a manter a mim e a
Zuri seguras até Gray vir nos buscar, posso lidar com qualquer coisa que ele jogue em mim. Afinal, sobrevivi a ele e ao resto dos amigos idiotas de Gray no ensino médio. Vou sobreviver a isso também.
Saindo do banheiro, encontro King encostado na parede, com as mãos casualmente enfiadas nos bolsos. “Teve algum problema lá dentro?” ele provoca com um sorriso malicioso que faz meu coração disparar. Espanto a sensação estranha antes que ela
tenha a chance de crescer.
Forço uma risada. “Tive que lutar com ela como se fosse um jacaré, mas a pequena alç a na mesa de troca ajuda um pouco.
Saímos da loja, lado a lado, e continuo lançando olhares para King, sua expressão
estoica não revelando nada. O que ele está planejando nessa cabeça maluca dele?
Colocando Zuri de volta no assento, observo enquanto King carrega minhas compras
para a traseira da caminhonete. Isso parece estranhamente… doméstico–ir ao Target
com um homem gigante, psicótico e perigoso de uma gangue de motoqueiros.
Assim que ele volta para o banco do motorista, a caminhonete liga silenciosamente, e
começamos a nos dirigir para a casa dele. Quanto mais nos aproximamos, mais a
ansiedade toma conta de mim. Eu sei onde ele mora, mas nunca pisei lá dentro.
Francamente, nunca quis.
“Posso sentir seu cérebro fervendo daqui. Não se preocupe, você pode sair quando
quiser. Não pretendo te manter como refém,” ele diz, com um canto da boca se
curvando.
“Não estou preocupada com isso,” minto, cruzando os braços. Gostaria que ele parasse de agir como se pudesse me ler. Ele não sabe nada sobre mim, exceto que sou a irmã
zinha do Gray e que odeio suas entranhas.
Ele responde com um irritante “uhum,” seus olhos ainda fixos na estrada.
Quando estacionamos na entrada, ele me diz para ficar dentro do carro enquanto ele
traz todas as coisas. Então, ele tira o assento de Zuri do banco de trás e a carrega para
dentro.
O que diabos está acontecendo? Sigo atrás dele, lembrando do nojo em seu rosto
quando viu Zuri pela primeira vez. E agora ele está carregando ela.
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Sim, tem algo acontecendo, e estou determinada a descobrir o que é.
Ao entrarmos, minha boca se abre. O lugar dele é incrível, como o apartamento ideal de um solteiro. São dois andares com luz natural entrando por todas as janelas impecá veis, lançando um brilho quente e convidativo sobre o espaço. Eu estava preocupada
que teria que fazer uma grande adaptação para bebê hoje à noite, mas além de alguns
sofás modernos e elegantes, a enorme TV de tela plana e as peças de arte caras estão
na parede, bem fora do alcance. As empregadas dele devem fazer um trabalho incrível,
não há um grão de poeira à vista.
Vou ter que garantir que limpe tudo depois que Zuri fizer bagunça. Este é o espaço
dele, e ele está nos permitindo ficar aqui por algum motivo. Quero garantir que mostre
minha gratidão, apesar da sensação de que ele está tramando algo.
“Uh, você tem certeza de que quer que fiquemos aqui até Gray vir nos buscar?”
pergunto em voz baixa, ainda olhando ao redor do mini palácio.
Enquanto começa a subir as escadas, ele olha por cima do ombro. “Você me chamou
para ajudar, não chamou? Que tipo de homem eu seria se não garantisse sua seguranç
a até ele poder assumir?
O mesmo idiota com quem cresci, quero responder, mas mordo a língua.
Ele sorri e desaparece no andar de cima. Enquanto presumo que ele esteja tomando
banho, estendo o cobertor de Zuri e a coloco nele, dando–lhe um sachê de purê de
frango com ervilhas e cenouras. Por mais nojento que pareça, ela suga feliz, suas
pequenas mãos segurando o sachê como se alguém pudesse roubá–lo.
Enquanto ela come, monto o berço portátil. Mesmo que este seja um ambiente novo e desconhecido, espero que ela durma depois de comer, como costuma fazer. Preciso de
um tempo para pensar sobre nosso futuro. Não podemos viver com Gray para sempre.
Sei que Isaac eventualmente nos encontrará e tentará tirar Zuri de mim, se não me
matar primeiro. Não estamos seguros aqui em Moonshadow Creek.
Sorrio enquanto a observo. “Eu disse que a mamãe nos tiraria de lá. Só preciso
descobrir para onde ir a partir daqui,” murmuro, mais para mim mesma do que para ela.
Agora, minha prioridade é manter Zuri segura enquanto encontro uma maneira de
recomeçar, onde ninguém jamais possa nos encontrar novamente.