Capítulo 31
Vicente estava absorto em seu copo de bebida, sem responder. Fernando percebeu que isso significava que ele concordava.
Fernando sempre achou Isabela muito mais agradável do que Pamela. Ele se dava bem com Isabela e, ao longo dos anos, pôde testemunhar o quanto ela se dedicou a Vicente. No entanto, Pamela sempre aparecia com aquele ar de fragilidade, e Vicente nunca a afastava. Talvez o amor incondicional de Isabela nos últimos cinco anos tivesse deixado Vicente
mal–acostumado.
Para Fernando, era claro que Vicente amava Isabela, talvez até mais do que ele próprio imaginava. Mas ele estava preso em sua zona de conforto.
Pegando o celular, Fernando abriu o WhatsApp e iniciou uma chamada de voz para Isabela.
O som de chamada ecoou no silêncio da noite no Bairro Sol Nascente.
Isabela estava deitada na cama, revivendo os acontecimentos daquela noite enquanto passava os dedos pela pulseira de cristal. Ela pensou que não conseguiria dormir, que passaria a noite toda remoendo a cena de Vicente saindo com Pamela ou os olhares impacientes de Samuel e Ana, acompanhados de suas palavras duras. Ou ainda, os olhares críticos e as fofocas do círculo social em que vivia. Para sua surpresa, em sua mente surgiam cenas vibrantes e dinâmicas da cidade iluminada, uma paisagem deslumbrante sem fim. E, claro, o olhar profundo e enigmático de Diego, que parecia brilhar como estrelas.
De repente, o toque do celular a trouxe de volta à realidade. Era Fernando. No passado, quando não conseguia encontrar Vicente, era Fernando quem estava disposto a ouvi–la e ajudá–la. Após um momento de hesitação, ela atendeu a ligação.
“Alô.”
A voz doce e familiar de Isabela ecoou pelo telefone. Vicente, que estava bebendo, parou e levantou a cabeça, olhando para o celular de Fernando. Rodrigo estava prestes a falar, mas um olhar gélido de Vicente o silenciou.
Fernando pigarreou, hesitante.
“Isabela, o Vicente bebeu um pouco demais no bar. Você pode vir buscá–lo?”
Silêncio do outro lado da linha. Depois de uma pausa, a voz dela voltou.
“Não posso. Chame o assistente dele, Rafael, ou a Pamela. Ela com certeza adoraria buscá–lo.”
O rosto de Vicente ficou sombrio. Até Fernando e Rodrigo sentiram a temperatura ao redor cair. Fernando, um tanto desconfortável, insistiu: “Ele está com uma dor de cabeça forte. Só você pode ajudá–lo.”
Do outro lado, Isabela soltou uma risada amarga.
1/2
16:45
“Sou uma baba agora? Quando ele está doente, sou eu quem cuido. Quando está bem, é a Pamela quem aproveita. Não sou tão barata assim.”
“Imagino que Vicente esteja ao seu lado, Diga a ele que terminamos. Mesmo que ele morra, máximo que farei é chamar uma ambulância!”
Com isso, ela encerrou a chamada sem hesitar.
Fernando ergueu os olhos, encarando Vicente. O olhar de Vicente era frio e cortante, uma tempestade se formando em seus olhos, como um furacão prestes a explodir.
“Caramba!” Rodrigo exclamou furioso, “Ela sabe o que está dizendo? Terminar? Vicente estar com ela é um privilégio! Ela devia reconhecer seu valor.”
“Se fosse por mim, Vicente, eu a ignoraria. A menos que ela implore por perdão, você deveria deixá-la e ver como ela se arrepende!”
“Rodrigo.” A voz de Vicente era gélida: “Cale–se. Ninguém aqui precisa ouvir você.”
“Vicente, estou tentando ajudar…”
Vicente levantou–se com um leve tremor, estabilizando–se antes de falar friamente: “Se quer me ajudar, cale a boca.”
Fernando quis dizer algo, mas ao ver a raiva emanando de Vicente, decidiu ficar em silêncio. Ele tinha a impressão de que desta vez Isabela estava realmente decidida a terminar.
Ao olhar para Vicente, não pôde deixar de sentir uma pontada de pena.
Na manhã seguinte
Isabela acordou revigorada após uma boa noite de sono. Com cuidado, ela fez uma maquiagem impecável e escolheu uma camisa de seda nude e uma saia cinza sóbria, que acentuavam sua elegância e sutileza.
2/2